Resumo sobre os Mastócitos
Os mastócitos são células do tecido conjuntivo e mucosas que participam nos mecanismos de defesa do organismo, estando envolvidos nos processos inflamatórios e nas reações alérgicas. São derivados de células multipotentes hematopoiéticas (derivadas da medula óssea) e expressam os marcadores CD13, CD34 e CD117.
São células grandes, de formato arredondado e um citoplasma cheio de grânulos basófilos. Possui um núcleo central e esférico, mas quase sempre coberto pelos grânulos citoplasmáticos, os quais contém mediadores vasoativos.
São bem distribuídos por tecidos como a pele, vias respiratórias e o trato gastrointestinal. De maneira geral, não são encontrados na circulação sanguínea. Seu posicionamento periférico, em áreas de contato com o ambiente externo, garante que os mastócitos tenham uma resposta imune imediata nas reações inflamatórias, interagindo mais rapidamente com antígenos, patógenos ou toxinas ambientais.
Função dos mediadores químicos
Sua função central é produzir e armazenar mediadores químicos farmacologicamente ativos que participam dos processos inflamatórios. Os grânulos dos mastócitos contêm mediadores químicos da inflamação, tais como:
1. Mediadores pré-formados
- Heparina,
- Proteoglicanas,
- Citocinas específicas que participam de processos como a imunidade e hematopoieses, entre outros processos biológicos,
- Proteases,
- Histamina,
- TGF-β (Transforming Growth Factor Beta),
- IL-4,
- TNF-α (Tumor Necrosis Factor) e
- GM-CSF (Granulocyte-Macrophage Colony-Stimulating Factor), entre outros.
2. Mediadores neoformados
Alguns derivam do metabolismo do ácido araquidônico como:
- PGD2 (prostaglandina D2),
- Tromboxanas e
- Leucotrienos como o fator de ativação plaquetária (PAF) e
- SRS-A (Slow Reacting Substance of Anaphylasis). Leucotrienos sintetizados na membrana plasmáticas, a partir dos fosfolipídios, e liberados para o exterior à célula,
- Fator quimiotático dos eosinófilos na anafilaxia ou ECF-A (eosinphil chemotatic factor of anaphylatics).
3. Mediadores neosintetizados:
- Interleucinas IL-3, IL-4, IL-5 e IL-6,
- Fator estimulador de colônias granulócitos/macrófagos (GM/CSF).
Assim, os macrófagos têm a capacidade de responder rapidamente a um estímulo liberando uma série de mediadores químicos (mediadores pré-formados), seguidos por outros mediadores que são sintetizados de novo (mediadores neoformados). Por outro lado, os mastócitos também são capazes de responder tardiamente de maneira organizada (mediadores neosintetizados). Os fatores neosintetizados são produzidos em um período de 12 a 18 horas após a desgranulação.
O processo de reação inflamatória
As células dos mastócitos contêm em sua superfície numerosos receptores (FcεRI) específicos que possuem alta afinidade de ligação com as moléculas de imunoglobulina E (IgE), um anticorpo produzido pelos plasmócitos. Grande parte das moléculas da proteína IgE fixa-se na superfície dos mastócitos e granulócitos basófilos.
Estes receptores são ativados pelas IgEs em resposta ao reconhecimento de antígenos, levando à liberação dos mediadores. Entretanto, outros estímulos como venenos, trauma mecânicos e certos neuropeptídeos também podem ativar os mastócitos.
Um exemplo típico da atuação dos mastócitos na resposta inflamatória são as reações alérgicas. Os mastócitos desencadeiam reação de hipersensibilidade do tipo I via ativação de FcεRI. Após o estímulo, ocorrem desgranulação e liberação de mediadores pré-formados, seguida da liberação de mediadores neoformados.
A liberação destes mediadores químicos provoca a migração de neutrófilos e macrófagos, as principais células presentes no processo agudo de inflamação. A ativação destas células é responsável pelos sintomas clássicos da alergia e anafilaxia, como a secreção de muco, o aumento da motilidade no trato gastrintestinal e broncoconstrição.
Mastócitos: mocinho ou vilão?
Os mastócitos possuem um papel ambíguo e crítico nas imunidades inata e adquirida. Dependendo das circunstâncias, sua atuação tanto pode contribuir para restabelecer a saúde, quanto para agravar a doença, aumentando a resposta de hipersensibilidade e agravando o quadro de inflamação e risco de mortalidade, no caso de infecções mais severas.
A liberação destes mediadores químicos armazenados nos grânulos citoplasmáticos dos mastócitos é responsável pelas “reações de sensibilidade imediata” observadas em casos de alergias. Assim chamadas porque ocorrem imediatamente após a penetração no sangue, em um indivíduo previamente sensibilizado para aquele antígeno ou outro muito semelhante.
O choque anafilático é um dos exemplos deste tipo de reação de sensibilidade mais conhecido e também um dos mais graves, podendo ser fatal. Pode ocorrer choque anafilático, por exemplo, em um indivíduo que recebe uma dose de soro antitetânico após ter recebido uma injeção do mesmo soro alguns meses antes.
Este tipo de reação acontece porque, na primeira injeção recebida com o soro antitetânico, são formados anticorpos IgE, os quais se ligam à superfície da membrana dos mastócitos. Em uma segunda dose deste mesmo soro, aquele que vem a provocar o choque anafilático, ocorre uma reação deste soro com as moléculas de IgE ligadas aos mastócitos. Esta reação provoca um processo de extrusão dos grânulos citoplasmáticos e a liberação de mediadores químicos como a histamina, leucotrienos e ECF-A.
Por outro lado, os mesmos mastócitos são capazes de limitar a inflamação e o dano tecidual, promovendo a resistência do hospedeiro a certas infecções bacterianas e parasitárias. Além disto, estudos indicam que os mastócitos também participam em processos neoplásicos, doenças cardiovasculares e autoimunes.
Neste breve resumo sobre mastócitos, vale salientar que, embora estas células desempenhem importante papel na anafilaxia, não são as únicas que participam deste processo.