Anáfora
A língua portuguesa é um dos mais complexos idiomas – principalmente para os que estão aprendendo. E foi pensando na complexidade da língua que neste artigo trouxemos o conceito e a aplicabilidade das anáforas.
Mas afinal, o que é anáfora? Confira essa e outras respostas no decorrer deste artigo!
Conceito de anáfora
A anáfora nada mais é do que uma figura de linguagem da língua portuguesa – assim como o eufemismo, a prosopopeia, a hipérbole, pleonasmo, aliteração, paradoxo, antítese, metonímia, comparação, elipse, assíndeto, onomatopeia e até mesmo a tão famosa metáfora.
Basicamente, a anáfora é uma figura de repetição. Ela ocorre sempre que uma ou várias palavras são repetidas de modo sucessivo e propositalmente. Geralmente, a anáfora é encontrada no início de períodos, de orações ou de versos.
Mas afinal, qual é o objetivo da anáfora?
Simples. Tornar uma ou mais palavras mais expressivas dentro da oração/verso em que se encontra. A repetição faz com que o termo ganhe ênfase e muito mais destaque na mensagem.
Vale ainda destacar que a anáfora também é considerada uma figura de sintaxe e construção na língua portuguesa, assim como o pleonasmo, o elipse e o hipérbato.
O recurso linguístico é amplamente utilizado por autores literários, músicos e poetas muito famosos em âmbito nacional – como Vinícius de Moraes, Daniela Mercury, Carlos Drummond de Andrade, Manuel Bandeira, Jorge Vercillo e outros.
Na classificação gramatical, a anáfora consiste em um substantivo feminino. Já etimologicamente, a palavra é originada no grego ‘anaphorá’, termo que em tradução literal para o português significa trazer ou manter uma repetição.
Quando as anáforas são utilizadas?
As anáforas são figuras de linguagem utilizadas principalmente em músicas, quadrinhos, poesia e literatura de modo geral. Não à toa, a figura de repetição é vista com bastante frequência em manifestações populares de arte e cultura.
No cinema e na publicidade a anáfora também é utilizada com frequência, mas de modo um pouco diferenciado – por meio da repetição de cenas.
Geralmente as anáforas são utilizadas para darem a sensação de dia após dia, ou seja, de rotina dentro do contexto da propaganda ou da produção cinematográfica em questão. A repetição da pessoa levantando da cama, tomando café, almoçando, trabalhando, saindo para correr ou para passear com o cachorro são algumas cenas comuns de anáfora encontradas nestes segmentos da arte.
A sequência de imagens pode ser compreendida com facilidade em um clássico do cinema, o filme ‘Requiem for a dream’, drama americano traduzido como ‘A vida não é um sonho’ para as telinhas cinematográficas brasileiras.
Obviamente, as anáforas utilizadas neste contexto têm como principal objetivo a criação de rotina dentro da história por meio de imagens sequenciais.
Resumidamente, as anáforas podem ser utilizadas em expressões, palavras ou imagens e visam reforçar o sentido de algo conscientemente.
Vamos considerar alguns exemplos.
• Poema de Cecília Meireles “O último andar”
No poema ‘O último andar’, da jornalista e escritora Cecília Meireles, a expressão que dá nome a ele é repetida inúmeras vezes ao longo do poema, assim como a expressão “é lá que eu quero morar”.
Basicamente, o objetivo da escritora é reforçar o quanto o último andar é belo e bonito – e o quanto ela quer morar lá.
Algumas partes do poema (abaixo incompleto) são as seguintes:
“No último andar é mais bonito:
do último andar se vê o mar.
É lá que eu quero morar.
O último andar é muito longe:
custa-se muito a chegar.
Mas é lá que eu quero morar.
Quando faz lua, no terraço
fica todo o luar.
É lá que eu quero morar.
De lá se avista o mundo inteiro:
Tudo parece perto, no ar.
É lá que eu quero morar:
no último andar.”
• Poema “E agora José”, de Carlos Drummond de Andrade
O poema ‘E agora José’ também é um verdadeiro clássico no momento de exemplificar as anáforas.
Neste poema, observamos que Carlos Drummond usa a figura de linguagem em três diferentes palavras: na conjunção “se” (início de cada oração), na expressão “e agora José” e no pronome de tratamento “você”.
Observe:
E agora José?
[…]
Se você gemesse
Se você tocasse
[…]
Se você dormisse
Se você cansasse
Se você morresse…
[…]
Você é duro, José.
• Música “Que nem Maré”, de Jorge Vercillo
Jorge Vercillo também criou uma música onde a figura de linguagem anáfora é muito comum.
Na música, as expressões repetidas de modo consistente são “nada vai me” e “amor”.
Observe:
“Nada vai me fazer desistir do amor
Nada vai me fazer desistir de voltar todo dia pro seu calor
Nada vai me levar do amor”
Em seguida, ele também utiliza a repetição dos termos ‘saudade’ e ‘maré’ para trazer um tom de sensibilidade à música.
Confira:
“A saudade bateu, foi que nem maré
Quando vem de repente, de tarde
Invade e transborda esse bem me quer
A saudade é que nem maré”.