Ligas Camponesas
As ligas camponesas foram uma organização formada por um partido político brasileiro em meados dos anos 1940. Foi extremamente importante para a época, principalmente porque defendia o direito à terra e a reforma agrária.
Hoje em dia pouco se conhece a respeito das ligas camponesas e, por isso, é importante relembrar sua história e quais foram as principais vitórias deste importante movimento.
O que eram as ligas camponesas
Formadas pelo Partido Comunista Brasileiro (PCB) em 1945, as ligas camponesas nasceram com o intuito de ajudar as pessoas que desejavam ter o direito à terra no país, além de também lutarem por uma melhor qualidade de vida para todos que viviam no campo.
No final do Governo do presidente Getúlio Vargas, elas foram abafadas e quase exterminadas, mas ressurgiram no estado de Pernambuco, ainda fortes em 1954. Em seguida, logo se espalharam por outros estados, principalmente Paraíba, Goiás e Rio de Janeiro e permaneceram bastante atuantes até o final do Governo do presidente João Goulart, em 1964.
As ligas camponesas tiveram diversos líderes e os mais famosos foram o primeiro deles, Gregório Lourenço Bezerra, e Francisco Julião Arruda de Paula, que assumiria a liderança logo em seguida.
Nascidas logo antes do início da Segunda Guerra Mundial, as ligas camponesas reuniam trabalhadores rurais de todas as classes, incluindo pequenos agricultores familiares, diaristas, assalariados e os Sem-Terra.
O movimento tinha dois objetivos distintos: o primeiro era aumentar o número de eleitores para o Partido Comunista Brasileiro e o segundo era realmente compreender quais eram as necessidades e os desejos dos trabalhadores do campo e ajudá-los a conquistá-los.
Desde que iniciaram os trabalhos, a liga sofria muita repressão do Estado, por tentar interferir no que o Governo e as pessoas mais poderosas do país queriam. Em 1954, quando retornaram à ativa, as ligas camponesas criaram então a Sociedade Agrícola e Pecuária de Plantadores de Pernambuco, que tinha os seguintes objetivos:
* Formar uma cooperativa de crédito, livrando os pequenos agricultores do poder dos latifundiários;
* Prestar assistência jurídica, médica e também educacional aos agricultores;
* Auxiliar os agricultores com despesas funerárias, já que muitos eram enterrados como indigentes por falta de dinheiro.
Mas logo em seguida as ligas camponesas foram novamente abafadas pela ditadura militar, que os acusavam de ter somente desejos políticos baseados na filosofia socialista. Foi atacada brutalmente e proibida de atuar, deixando mais uma vez os pequenos agricultores sofrendo sozinhos.
Foi então que procuraram ajuda jurídica com o advogado Francisco Julião, que se tornaria líder do movimento e já expressava sua simpatia para com a luta dos pequenos agricultores.
Francisco Julião criou a Sociedade Agrícola e Pecuária de Plantadores de Pernambuco e legalizou seus trabalhos em janeiro de 1955. Em 1959, o grupo conseguiu a desapropriação do engenho e começou a mudar a vida das pessoas que mais precisavam.
No entanto a mídia, aliada ao governo ditatorial militar, logo aliou a Sociedade Agrícola e Pecuária de Plantadores de Pernambuco ao Partido Comunista Brasileiro e, com o início da ditadura militar, o movimento foi sufocado.
Diversas pessoas ligadas ao movimento foram presas, torturadas e mortas. Outros conseguiram fugir, mas tiveram que acabar com o movimento, fazendo com que as ligas camponesas deixassem de existir de uma vez por todas.
A luta das Ligas Camponesas e seu legado
A luta por uma vida mais justa, pela distribuição das terras no país e por mais qualidade de vida para os pequenos produtores do campo não é novidade no Brasil. As ligas camponesas foram a primeira tentativa de garantir mais justiça para quem produz na terra e por mais igualdade, algo que os grandes latifundiários continuam agindo contra.
A ditadura militar e a repressão a qualquer ideia que tivesse alguma semelhança ou proximidade ao socialismo ou ao comunismo acabou dificultando o trabalho do grupo e evitando que conseguissem o progresso.
O principal motivo que levou à criação das ligas camponesas foi a situação de total miséria e abandono que vivia o povo nordestino da época. O economista Celso Furtado, um dos fundadores, tinha como objetivo fazer pesquisas com esta população e também encontrar soluções justas e imediatas.
Durante este período a Igreja Católica também se posicionou, dando seu parecer favorável à reforma agrária e ao movimento em si, que estava em seus primeiros dias de criação. A luta pela reforma agrária sofreu grande repressão dos latifundiários, e quando a ditadura militar se instaurou, houve um aumento ainda maior da violência e truculência.
Apesar de ter sido eliminada e contida, as ligas camponesas conseguiram atrair a atenção de muitas pessoas e deixaram uma importante semente dentro do pensamento e do desejo das pessoas.
Em 1980, quando criou-se o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), muitos dos pensamentos e desejos da liga voltaram à tona. O MST pode ser considerado como uma verdadeira continuação daquele tempo.