Colocação Pronominal: Casos Opcionais e Locuções Verbais
Podemos definir como colocação pronominal as diferentes posições assumidas pelo pronome oblíquo num determinado contexto da língua portuguesa. Sendo assim, o pronome pode estar antes, no meio, ou depois do verbo, na construção da frase. Vamos retomar as regras gerais, antes de passar aos casos opcionais e locuções verbais:
REGRAS GERAIS DA COLOCAÇÃO PRONOMINAL
Para orações que tem um só verbo:
1. Verbo no futuro do presente ou no futuro do pretérito, usa-se apenas próclise ou mesóclise. Exemplos: Eu me deitarei. Eu me cobriria. Eu sentar-me-ia.
2. Aplica-se a próclise também nos seguintes casos:
– havendo palavra de sentido negativo (não, nunca, nada, jamais, nem, nenhum, ninguém) que preceda o verbo, sem pausas na oração. Exemplo: Jamais o vi por estas bandas.
– se o verbo precedido por um advérbio (aqui, ali, lá, cá, mal, bem, muito, somente, sempre, após, depois, ainda, já, agora, antes, acaso, porventura, talvez) ou por expressões adverbiais e que não haja pausas na oração. Exemplo: Sempre lhe aviso, e nunca me atende.
– se o verbo for precedido por “que”, exceto quando for substantivo. Exemplo: O que você nos conta faz diferença.
– se o verbo for precedido de pronome relativo (quem, o qual, onde, cujo).Exemplo: Quem me escreveu?
– se o sujeito da oração, antes do verbo, tiver “ambos” ou um pronome indefinido (alguém, algum, diversos, pouco, muito, tudo, vários, algo, outrem). Exemplos: Alguém me espera. Ambos se proclamam vencedores.
– se o verbo for precedido de pronome demonstrativo (esse, este, esta, essa, isto, aquilo, isso). Exemplos: Isso lhe pertence. Aquilo lhe incomoda.
– se as orações exprimem desejo ou exclamação. Exemplos: Macacos me mordam! Que os anjos o protejam!
– se o verbo for precedido de uma conjunção subordinativa (embora, porque, se, como, conforme, quando, caso, quanto, conquanto, consoante, segundo, quanto mais, enquanto). Exemplos: Quando me contaram, já era tarde. Segundo me disseram, não houve briga.
– se o verbo for precedido das conjunções coordenativas (não só/ mas também; quer/ quer; ou/ ou; ora/ ora; já/ já). Exemplo: Não só me contou tudo, mas também me escreveu.
– se o gerúndio estiver acompanhado da preposição “em” ou de algum advérbio. Exemplos: Em se tratando de estudos, ela prefere o português. Bem o querendo, mal o conhecendo.
– nas formas verbais onde ocorre a proparoxítonas. Exemplo: Nós o teríamos excluído.
– se a frase começar com pronome interrogativo. Exemplo: Quem te deu esse doce?
– se a frase começar por predicativo ou objeto direto. Exemplo: Isso te digo eu.
3. Não se aplica a próclise e nem a ênclise com os particípios.
4. No caso de infinitivo solto, ou seja, que não faz parte da locução verbal, pode-se usar tanto a próclise como a ênclise, exceto a combinação por/ nem e os pronomes o, os, a, as.
LOCUÇÕES VERBAIS E CASOS OPCIONAIS
Para avançar neste estudo, precisamos conceituar também as locuções verbais. Elas se definem como a junção de dois verbos; um deles, principal, expresso numa das formas nominais (infinitivo, particípio ou gerúndio) e o outro, auxiliar.
Isto entendido, vamos a alguns conceitos importantes, já que a colocação pronominal também está presente nas locuções verbais:
1 – Locuções nas quais o verbo principal ocorre no infinitivo ou no gerúndio: o pronome oblíquo deve permanecer ANTES do verbo auxiliar ou DEPOIS do verbo principal. Assim, note os exemplos abaixo:
Não lhe posso (verbo auxiliar) considerar (verbo principal) como o melhor amigo. Neste exemplo, a próclise se legitima pela presença do advérbio de negação (não). Ou ainda:
Não posso (verbo auxiliar) considerar (verbo principal)-lhe como melhor amigo.
No caso da locução verbal não ter consigo um fator claro de próclise, como o advérbio de negação, o pronome pode aparecer DEPOIS do verbo auxiliar ou DEPOIS do verbo principal. Veja os exemplos:
Posso(verbo auxiliar)-lhe considerar (verbo principal) como melhor amigo. Ou ainda:
Posso (verbo auxiliar) considerar (verbo principal)-lhe como melhor amigo.
2 – Locuções verbais nas quais o verbo principal ocorre no particípio:
Se não houver um fator determinante de próclise, o pronome deve permanecer DEPOIS do verbo auxiliar. Veja nos exemplos:
Tinha (verbo auxiliar)-lhe descrito (verbo principal) apenas o essencial.
Seus desejos haviam (verbo auxiliar)-se realizado (verbo principal).
Quando há o fator determinante de prótese, como, por exemplo, um advérbio de negação ou uma conjunção subordinada adverbial, o pronome permanecerá ANTES do verbo auxiliar:
Não lhe tinha (verbo auxiliar) descrito (verbo principal) apenas o essencial. (advérbio de negação)
Como se nos tivéssemos (verbo auxiliar) avistado (verbo principal) ao mesmo tempo (conjunção subordinada adverbial “como”).
Casos opcionais de uso da próclise e da mesóclise
O uso da próclise ou da mesóclise é opcional com os pronomes pessoais e com o infinitivo, desde que esses não façam parte da locução verbal. Já quanto à mesóclise, pode-se usar no início das frases, desde que não exista nada que atraia o verbo, seja no futuro do presente ou do pretérito.