A filosofia constitui certa forma de compreensão e domínio intelectual do mundo humano ou natural. Procura superar e combater os preconceitos e aparências da realidade, perseguindo então a essência dos fenômenos. O conhecimento filosófico não poderá nunca ser avaliado como uma demonstração da verdade absoluta. A filosofia real sempre buscará superar o saber atual, indo portanto de encontro ao desconhecido. A filosofia acaba criticando todos e tudo e por este motivo, pode ser vista como perigosa pelos possuidores do poder.
O Mito da Caverna é uma passagem da obra A República. Nessa passagem, Platão acaba se utilizando de um mito ou alegoria, uma espécie de narrativa que busca o esclarecimento de ideias complexas para o público leigo, algo bem semelhante ao que Jesus fazia por meio das parábolas, com o objetivo de explicar a essência de suas ideias.
Resumo do Mito da Caverna.
Segundo a narrativa, Mito da Caverna, todos os homens, desde o nascimento até a própria morte, estaria acorrentados de tal forma a não olhar para trás ou para os lados, vendo apenas a parede do fundo da caverna, lugar em que, sob o efeito de uma grande fogueira às costas desses mesmos homens, projetavam-se sombras. Os homens não sabiam ou não conseguiam ver as coisas e os seres reais. Eles achavam as sombras uma expressão da própria verdade. Como em um teatro de sombras, acreditavam no que viam, condicionados desde o nascimento pela maneira tradicional em que viviam. Por trás desses seres acorrentados, alguns homens se movimentava, os sofistas e os políticos, que manipulavam e também se utilizavam da projeção das sombras para o próprio benefício. Representavam aqueles que lutavam pela posse do poder e contribuindo ativamente para a continuidade de tal situação. Já que enganavam, iludiam, persuadiam e manipulavam os homens, que se encontravam acorrentados à condição de ignorância, a se manter em tal situação.
Em um certo dia, um homem conseguiu enfim se livrar das correntes que o envolviam e com muito esforço, conseguiu sair da caverna, depois de quase ficar cego com a luz do sol. Ele então finalmente, pôde vislumbrar a realidade verdadeira. Tempos depois, acabou retornando à mesma caverna da qual havia colocado tanto esforço para se livrar dela. Mas então, o que ele queria, o que ele buscava? Seu objetivo era o de esclarecer os homens, revelar a eles o que teve a oportunidade de conhecer. Mas, como foi recebido? Este homem acabou sendo visto como um louco, e por isso, foi assassinado. Essa é uma referência bem clara ao processo que envolveu Sócrates, que teria morrido em função da ignorância do homem comum, ou seja, da maioria, e pelo domínio e pela manifestação exercido sobre estes por parte de falsos políticos e sábios ambiciosos.
Uma interpretação possível
Uma das interpretações possíveis para o Mito da Caverna é que os homens não são todos iguais, já que a maioria parece estar totalmente satisfeita com o conhecimento e com a vida que possuem. Os que não estão tão satisfeitos, acabam por preferir ignorar as causas de toda essa insatisfação, acomodando-se, com o objetivo de evitar alguns riscos.
Quem se esforça muito para conhecer e mudar de atitude perante a vida sofre e muito. Esse processo em si é muito doloroso e o resultado pode alimentar a rivalidade, a incompreensão, a suspeita e a inveja de quem não pôde ou não quis trilhar o mesmo caminho. O homem que consegue se liberar é movido pela tensão e pela contradição entre o poder da tradição, do hábito, dos valores, dos costumes e das crenças que impedem de se levantar e lutar contra tal condição. Acaba por se libertar, mas só o consegue com grande dificuldade, esforço e dor. Este momento acaba representando o rompimento necessários com os condicionamentos que herdamos de nossos antepassados ou que acabamos formando aos poucos na medida em que convivemos em sociedade.
Este mesmo home vai gradativamente saindo da caverna e vendo pela primeira vez, a verdadeira realidade. Quando o homem que consegue deixar a caverna quase fica cego com a luz do sol, provavelmente Platão se referia ao processo gradativo, árduo que envolve a busca pelo verdadeiro conhecimento.
O homem quis retornar para a caverna para alertar os outros homens, mas incompreendido, acabou sendo assassinado. Neste momento, Platão deve estar tentando compreender o que teria causado a morte de seu mestre: Sócrates, que havia sido tão importante para ele e para a Grécia. Sócrates não foi um simples pensador que morreu, foi algo no próprio homem que se perdeu.
Nem todos poderão se tornar filósofos, mas todos devem tentar se aproximar o máximo de tal ideal. Somente dessa maneira, até mesmo o mais comum dos homens, poderá alcançar a compreensão dos pensadores que devem governar a cidade.
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