A lenda do boto cor-de-rosa é tradicional entre as histórias do folclore brasileiro e possui caráter indígena, o que explica sua popularidade na região amazônica que integra o norte do país. De acordo com o conto do boto cor-de-rosa, o animal costuma aproveitar as noites de lua cheia, principalmente as que compõem o período de festas juninas, para sair do Rio Amazonas e então cortejar e seduzir as mulheres do local. Ao sair do rio o boto se transforma em um charmoso homem, alto, bonito, vestido elegantemente com sapatos, chapéu e roupa branca.
Existem diferentes versões quanto a transformação do boto, dizendo-se que a sua metade superior se torna homem mas que no entanto a metade inferior continua na condição de boto. Em outros casos é mais comum afirmar que o nariz humano do boto é muito grande justamente por conta dos resquícios de seu corpo natural ou ainda que ele mantenha um grande orifício de respiração no topo da cabeça – lembrando que o boto é um mamífero e, portanto, precisa utilizar seus pulmões. O chapéu usado pelo boto durante sua transformação serviria na verdade para esconder o orifício. É por esse motivo que durantes as festividades juninas é muito comum que todo rapaz que chega às festas usando um chapéu precisa retirá-lo para que as pessoas do local se certifiquem de que ele não é o boto, garantindo assim a segurança das mulheres presentes.
Segundo a lenda, após sua transformação o boto escolhe a mulher mais bonita, atraente e solitária da festa para cortejar, dançando com ela a noite inteira até seduzi-la por completo. Logo depois de realizar sua conquista ele a convida para passear nas profundezas do rio, onde costuma ter relações sexuais com sua escolhida e a deixa grávida. Como o encantamento do boto só ocorre à noite a sua transformação termina logo pela manhã, quando a mulher então se vê então abandonada pelo seu par.
O surgimento da lenda do boto no Brasil remota a meados do século XVIII, mas, no entanto, já existia na mitologia indígena da tribo dos Tupis uma divindade que tinha a capacidade de se transformar em boto, o Uauiará, que era conhecido inclusive pelo seu grande apreço em namorar e se relacionar com mulheres bonitas. Além da fama de conquistador o boto também é notório por outras características, como:
De acordo com o folclore, além de seu traje branco e fino, o boto também carrega uma espada presa junto ao cinto. No momento do seu retorno ao rio, porém, todos seus apetrechos são revelados como sendo outras criaturas aquáticas, como:
Segundo especialistas em folclore, a lenda do boto nada mais é do que um modo de justificar casos de gravidez que aconteciam fora de condições impostas pela tradição (casamento), principalmente de mulheres solteiras e viúvas. A cultura folclórica é tão presente na região amazônica do país que ainda hoje é um costume dizer que crianças de pais desconhecidos e/ou de mães solteiras são filhos do boto.
Ainda é comum que habitantes de áreas próximas aos rios habitados por botos tenham o hábito de se alimentar da carne do animal, desejando serem enfeitiçadas por ele ou até mesmo adquirir suas habilidades românticas. Por outro lado, existe a vertente que afirma que as pessoas que provam o boto acabam perdendo a sanidade e enlouquecendo.
Inclusive o olho do boto é visto como uma espécie de amuleto na conquista amorosa. É dito que se o homem olhar para uma mulher através do olho seco do boto ela não poderá resistir e se apaixonará por ele.
O boto de verdade é um mamífero da ordem dos cetáceos e além do Brasil ele pode ser encontrado em outros países como Bolívia, Equador, Venezuela e Colômbia. O boto pode ter aspecto acinzentado, preto ou avermelhado e o corpo dos animais da América do Sul são alongados, medindo entre dois a três metros de comprimento. Um grupo desse mamífero vive somente em água doce que compõem os rios. Os botos apresentam grandes nadadeiras peitorais, 134 dentes e se alimentam principalmente de peixes e frutas. O filhote permanece ao lado da mãe até atingir a idade adulta.
A lenda do boto inspirou até o cinema nacional. O filme “Ele, o boto” que estreou em 1987, com Carlos Alberto Riccelli, Ney Latorraca e Cássia Kiss, explora justamente a lenda folclórica da região amazônica do Brasil.
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