Barroco Brasileiro e Gregório de Matos: Características Líricas
O Barroco Brasileiro
O Barroco Brasileiro foi um período extremamente marcante para a literatura nacional. Por mais que já se desenvolvesse há muito tempo, foi só alcançar realmente a sua plenitude depois do século XVIII, se prologando até o início do século XIX, de maneira bem expressiva. Assim, deu-se o desenvolvimento de uma literatura brasileira própria, que deu os seus primeiros passos graças aos escritores que nasceram na colônia.
O Barroco Brasileiro teve o seu início marcado pela associação com as igrejas católicas, já que chegou à colônia brasileira pelos jesuítas. O intuito da prática era unicamente moral e didático, ao mesmo tempo, mas sofreu uma série de alterações marcadas pela influência ocidental e europeia.
Há quem diga que o estilo barroco brasileiro surgiu em meio a “trancos e barrancos”, em um contexto histórico brasileiro de esforços muito individualistas, em que grande parte dos modelos de literatura começaram, aos poucos, a pisar em solos brasileiros.
O barroco brasileiro, desde os seus primeiros passos, teve como objetivo criar um meio termo entre os valores renascentistas com um ideal de caráter medieval. O gosto pelas coisas que eram realizadas na terra, o humanismo e a valorização do mesmo e a própria satisfação dos acontecimentos naturais, como os carnais e mundanos. Certamente, se desenvolveu muito na literatura, principalmente por conta de alguns autores. Mas, também deu a sua contribuição na religião, nas artes plásticas, na arquitetura e, até mesmo, na filosofia.
O estilo literário conseguia refletir exatamente de forma oposta o que ocorria na colônia, por meio de contradições que eram vividas em território brasileiro nessa mesma época.
Quem é Gregório de Matos
Gregório de Matos certamente é um dos maiores nomes na literatura barroca do Brasil. Suas obras eram extremamente ricas em sarcasmo, e era notável a expressão da Bahia como total irreverência.
Gregório de Matos foi um poeta expressivo durante o Barroco brasileiro. Ele não deixou de lado uma série de sentimentos e de satisfações mundanas, sempre referenciando em seus poemas a paixão dos humanos, a religião, a própria reflexão filosófica e a natureza.
Sendo assim, no momento de separar as principais obras do autor, elas foram divididas em três diferenciadas temáticas: a amorosa, a lírica e religiosa, e também a filosófica.
Lírica amorosa
A lírica amorosa de Gregório de Matos na época do Barroco, certamente, marca uma dualidade, que ocorre entre o nosso espírito e o nosso corpo (ou melhor, a carne). Assim, os seus poemas expressavam a dualidade entre um e outro, que entravam em conflito no espírito ocasionado, principalmente, pelos nossos sentimentos de culpa.
O amor platônico, a obscenidade de um amor essencialmente carnal, o sentimento contemplativo relacionado à arte de amar sempre chegavam então ao conflito que ocorria entre o espírito e a carne do indivíduo.
Lírica religiosa
A lírica religiosa, por sua vez, foi a que mais se destacou no barroco de Gregório de Matos. Entre as principais inspirações do autor, ou melhor, os temas explorados, devemos destacar a relação do humano com o pecado, com o amor dos humanos dedicados a Deus e o próprio arrependimento.
O autor teve poemas muito marcantes na lírica religiosa, principalmente quando exaltava a insignificância dos humanos em relação ao nosso Deus, assim como a busca excessiva por perdão, mesmo quando sabemos que estamos errados, expressando também a consciência humana de pecador.
Desta forma, era comum que todos esses conceitos serem expressos juntos em um mesmo poema, o que muitas vezes causava dúvida e alvoroço, principalmente por parte dos grandes religiosos da época.
Lírica filosófica
A lírica filosófica, por sua vez, é onde o autor tornava claras todas as suas dúvidas e questionamentos acerca do mundo. Entre as principais referências utilizadas, é preciso enfatizar a desordem, a baderna e a loucura do nosso mundo e também as desilusões, os medos e a confusão do imaginário com a realidade dos seres humanos.
É nesse momento que todo o pessimismo, a própria angústia que cerca o mundo e, consequentemente, a mente de Gregório de Matos, são expressados. As incertezas, a fugacidade do nosso espaço-tempo e os demais desconcertos e dúvidas acerca do mundo são consideradas nesse modelo de poesia.
“O boca do Inferno”
Não foi à toa que Gregório de Matos ganhou um apelido bem carinhoso: o Boca do Inferno. Em suas escritas, o autor não deixava de lado os seus pensamentos e as mais diferenciadas formas de expressão: se fosse preciso, utilizaria palavrões e faria críticas intensas, como fez em grande parte de seus poemas.
Por conta disso, suas sátiras e poemas contavam com muitas críticas, expressões e palavrões, principalmente em seus questionamentos filosóficos envolvendo as desilusões em contradição com a realidade vivida pelo ser humano.
Além disso, seus poemas também eram marcados por um português extremamente rico, que por vezes ganhava ainda mais força por meio dos termos tanto africanos quanto indígenas, utilizados em meio ao nosso português.