O romantismo foi um movimento artístico e literário que teve início na Europa no final do século XVIII. Chegou ao Brasil no decorrer do século XIX, particularmente após a declaração da independência do país em relação a Portugal.
Caracteriza-se pelo rompimento com a tradição clássica e o formalismo excessivo, tendo como marco a publicação de “Suspiros poéticos e saudades”, de Domingos José Gonçalves, no ano de 1836.
Entre as marcas registradas do movimento romântico no Brasil estão o idealismo, o amor platônico, a idealização da mulher, o nacionalismo, o ufanismo, subjetivismo, culto à natureza, sentimentalismo e, em algumas fases, o indianismo, a religiosidade, o egocentrismo e o escapismo.
Historicamente, esse movimento artístico e literário se divide em três fases:
1. Nacionalismo e Indianismo
Surgiu num momento em que o Brasil, recém-separado de Portugal, buscava afirmar sua identidade nacional, de modo que foi fortemente caracterizado pelo nacionalismo.
O indianismo é um fenômeno bastante presente nessa fase, sobretudo por conta da busca por temas nacionais, que reforçassem a identidade brasileira.
Estão entre os principais autores dessa fase: Araújo Porto Alegre, Gonçalves de Magalhães, Gonçalves Dias, José de Alencar e Teixeira e Souza.
2. Ultrarromantismo
Essa geração ficou conhecida como “Ultrarromântica”, acometida pelo chamado “Mal do Século”, fortemente influenciada pelo poeta inglês Goerge Gordon Byron (1788-1824), cuja principal característica era a introspecção pautada no pessimismo, dúvida, desilusão, negativismo, egocentrismo, fuga da realidade e exaltação à morte.
Foi uma geração que cultivou a boemia, que teve como principais personagens: Álvares de Azevedo, Fagundes Varela, Junqueira Freire e Casimiro de Abreu.
3. Geração Condoreira
Nessa fase o mal do século é substituído por uma nova abordagem literária, que tem na liberdade o principal tema. Como as demais, sofreu influência europeia, basicamente do francês Victor-Marie Hugo (1802-1885).
Teve grande influência sobre os intelectuais da época e encampou a bandeira pela abolição da escravidão no Brasil, tendo como principais nomes: Castro Alves, Tobias Barreto e Sousândrade.
A prosa romântica no Brasil foi influenciada por autores europeus, como Balzac e Walter Scott, e está na gênese da construção de uma narrativa de caráter nacional, presente nos diversos estilos que se desenvolveram a partir do indianismo, ganhando vertentes urbanas, sertanejas, históricas e regionalistas.
A prosa romântica começou a se difundir a partir dos folhetins, misturando imprensa e literatura na difusão de uma literatura nacional.
Os folhetins eram romances publicados em capítulos, numa estratégia comercial dos periódicos, de modo a prender a atenção dos leitores e fidelizá-los às publicações, numa abordagem comercial que está presente até hoje nas novelas televisivas.
Os folhetins acabaram popularizando o romance e a literatura, disseminando a arte literária para além dos muros da aristocracia e da nobreza do império, chegando ao leitor comum, consagrando autores e contribuindo para transformar o romance e a literatura em parte importante da cultura nacional.
Foi o movimento romântico o responsável por criar uma estética genuinamente nativa, contribuindo para direcionar a reflexão para os temas nacionais, ausentes sob a influência portuguesa, ainda que houvesse em movimentos literários anteriores, como em Gregório de Matos Guerra, essa preocupação com a temática nativa, muito embora a abordagem pouca relação tivesse com a do romantismo, e nos árcades Cláudio Manoel da Costa, Alvarenga Peixoto e Tomás Antônio Gonzaga, envolvidos no movimento abolicionista.
As obras do século XIX abordavam a sociedade da época e os traços culturais, servindo como fonte valiosa de informações para a compreensão da história da sociedade brasileira.
No indianismo, o índio é alçado à condição de herói nacional, como num rompimento estético e ideológico com a tradição portuguesa, dentro da perspectiva de autoafirmação nacional. A valorização do índio é fomentada através de personagens que representam a nobreza de caráter, valentia e integridade moral.
O principal personagem da abordagem indianista é José de Alencar, autor de romances célebres, como Iracema, Ubirajara e O Guarani.
José de Alencar está também presente na abordagem regionalista, com “O Sertanejo” e “O Gaúcho”, onde o meio rural é apresentado de forma sublimada, com destaque para o Visconde de Taunay, com “Inocência”, e Bernardo Guimarães, com “A Escrava Isaura” O mais interessante do romantismo regionalista está, no entanto, na geração de conteúdo histórico acerca da diversidade e dos contrastes regionais, que estiveram na pauta do movimento modernista que marcou o século XX.
José de Alencar está presente também na ficção urbana, consolidando-se como principal artífice da prosa romântica brasileira. Em “Diva” e “Senhora” está fortemente presente a idealização feminina, marcada pela combinação da descrição física e de caráter.
Destacaram-se nessa abordagem urbana Joaquim Manoel de Macedo, com “A Moreninha”, de forte apelo sentimentalista, e Manoel Antônio de Almeida, em “Memórias de um Sargento de Milícias”.
Joaquim Manoel de Macedo é reconhecido como um dos introdutores do romance urbano no Brasil. A Moreninha, publicado em 1844, retrata os costumes e frivolidades da sociedade que habitava a capital do império.
A linguagem fluida, destituída do rigor exacerbado do arcadismo, se intensifica em “Memórias de um Sargento de Milícias”, onde Manuel Antônio de Almeida aprofunda o romance urbano, se voltando para a descrição das condições de vida, valores e comportamentos das camadas mais desfavorecidas da sociedade urbana.
Além de abrir caminho para a abordagem regionalista do romantismo, desfraldou o caminho para o naturalismo e o realismo de Aluísio de Azevedo, Raul Pompéia e Machado de Assis.
Em resumo, o romantismo deve ser considerado a semente da prosa literária brasileira.
This post was last modified on 16 de março de 2018 13:12
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