Você já parou para pensar que, ao ler ou ouvir uma frase, nem toda a ideia que é passada para você está de fato explícita no que se diz? Vamos explicar melhor: Se eu digo: “Maria parou de dar aulas.”, está implícito que, no tempo imediatamente anterior, Maria dava aulas. Isso porque a palavra “parou” sugere a ideia de que a ação acontecia antes e agora não acontece mais.
Essas palavras (ou expressões), que dão à frase um significado que vai além do que se lê, são chamadas pressupostos semânticos. Elas podem representar ações passadas, sentimentos ou a ideia de que algo fugiu da rotina. Por exemplo, na frase: “Joana foi à minha casa hoje, mas não levou o sobrinho.”, pressupomos que Joana costuma levar o sobrinho quando vai à minha casa e hoje não levou.
Os pressupostos semânticos imprimem à declaração uma ideia fixa, como se tratássemos de uma verdade absoluta, que é apresentada ao ouvinte sem abrir espaço para que conteste, como por exemplo, a frase: “Está fazendo frio, mas está bom.”, pressupõe-se que é ruim o fato de fazer frio, sem abrir margem à opinião de quem ouve. A palavra “mas” desempenha o papel de pressupor que estar frio e estar bom ao mesmo tempo representa algo fora da normalidade.
Para entender melhor como funciona um pressuposto semântico, pense na riqueza de recursos existentes na língua portuguesa para que nem sempre seja preciso “contar a história” desde o começo. Algumas vezes, uma única palavra, empregada com a função de imprimir à frase componentes não mencionados, pode modificar ou realçar o sentido da oratória.
Os pressupostos semânticos podem ser adjetivos, advérbios, conjunções ou verbos. Quando representados por verbos, estes podem indicar mudança ou permanência (continuar, passar, etc.), um ponto de vista sobre determinado tema (presumir, pretender, etc.), ou desempenhar a função de verbos factivos (perceber, lamentar, etc. – se os verbos fossem não factivos, como imaginar ou achar, por exemplo, não representariam um pressuposto sobre uma verdade definida), ou verbos implicativos (conseguir, evitar, esquecer, etc.).
Hoje vamos abordar em especial um verbo, que associado à regência correta, pode funcionar como pressuposto semântico: pedir. Mas pedir o que? A quem? Para começar a entender, partimos do princípio que quem pede, sempre pede alguma coisa. O verbo pedir, se não estiver acompanhado dos complementos “pedir o que” e “a quem”, não faz sentido por si só. Para que represente um sentido completo, precisa vir acompanhado de objeto direto e indireto, com suas respectivas regências.
*Há ocasiões na vida nas quais precisamos pedir permissão, licença, autorização. Sendo assim, posso pedir à professora para ir ao banheiro e com certeza receberei uma afirmativa por ter pedido com educação e por ter empregado corretamente as regras gramaticais da língua portuguesa.
*Quando meu colega me convida para o seu aniversário, peço à minha mãe para ir à festa, assim estou sugerindo que não faltei às aulas de português e aprendi a empregar corretamente o verbo pedir com as regências adequadas. Neste caso, o que se pede não é algo concreto. Quando peço uma bebida ao garçom, por exemplo, não utilizo preposição, pois se trata de objeto direto. Em ambos os casos as perguntas “pedir o que?” “a quem?” estão respondidas, porém na situação mencionada anteriormente, ir à festa representa uma ação e pressupomos que estou pedindo autorização para praticar tal ação, portanto, trata-se de objeto direto, mas que precisa da preposição “para” para fazer sentido.
*Para não errar, sempre que precisar pedir licença ou autorização lembre-se de perguntar a si mesmo: Vou pedir o que? A quem? E não se esqueça de encaixar a preposição “para” antes da ação que deseja praticar. Não tem erro!
Mas se quiserem uma dica para não errar com o verbo pedir, aí vai: peço que leiam este texto até o final. Quando quero praticar uma ação, peço a alguém PARA fazê-lo. Mas e quando quero que alguém pratique uma ação? Peço QUE este alguém o faça. Notaram a diferença?
Sendo assim, peço que fiquem atentos a cada vez que pensarem em pedir que alguém faça algo. Nunca se esqueçam de usar “por favor” e o complemento “que”. Após entender a diferença e associar cada complemento ao sentido da frase, a coisa fica fácil: “para” está ligado à pedir permissão à alguém para fazer algo e “que” exprime o desejo que alguém faça algo. Compreenderam?
Quanto mais você estuda a língua portuguesa e suas vertentes, mais fácil fica comunicar-se seguindo as regras gramaticais corretas. E, para finalizar, só peço que fiquem atentos a esses pequenos detalhes para não errar e que prestem atenção às aulas de português. Uma simples regra gramatical pode fazer toda a diferença na hora de ingressar na carreira dos seus sonhos. Pense nisso!
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